domingo, 12 de maio de 2019


SABADOU... COM CIÊNCIAS CRIMINAIS
(ou não)

Crítica de hoje:

VERSÕES DE UM CRIME



Ficha técnica: Versões de um crime (The Whole Truth). EUA, 93min. Drama. Direção: Courtney Hunt. Elenco: Keanu Reeves, Renée Zellweger, Gugu Mbatha-Raw, Gabriel Basso e Jim Belushi.
Nota: fraco.


Antes de prosseguir com os comentários sobre Making a Murderer, sou obrigado a abrir um pequeno parênteses e me manifestar sobre este filme que descobri ontem enquanto procurava por algo inédito na Netflix.

Encontrei este filme na sessão de suspense, bem no final da lista. Ao ver que a película era estrelada por Keanu Reeves e se tratava de uma história sobre tribunais e crime, resolvi dar uma chance. Advogado do diabo (The Devil's Advocate) é um filme jurídico marcante e ainda atual, logo, qual era probabilidade deste filme não ser bom?

Obras norte-americanas sobre tribunais e o mundo jurídico, em geral, se dividem em 4-5 categorias: a) obra focada na investigação (polícia); b) obra focada na investigação (perícia); c) o julgamento de um caso; d) o pós-julgamento; d) o dia a dia de um escritório.

Na primeira categoria, temos qualquer filme/série onde um crime é cometido e a polícia procura o responsável, com foco nos policiais, crimes e investigados. "Vez que outra" algumas regras podem ser violadas em prol do bem comum e "pegar o bandido". Aqui, temos inúmeros exemplos.

Na segunda categoria, o foco é o trabalho de perícia dos bastidores. CSI e Bones são seus principais exemplos.

No terceiro grupo, a maioria dos filmes sobre tribunais, onde um caso é apresentado e cabe aos advogados comprovar que seu cliente é (sempre) inocente. Tem-se o rito do tribunal, com apresentação das provas, debate entre acusação e defesa e o veredicto final. Ilustrando este grupo, cito os ótimos Chicago, Erin Brocovich, As duas faces de um crime,  12 homens e uma sentença, Tempo de matar, Making a Murderer (1ª temporada), O povo vs. O.J. Simpson e este filme que é aqui criticado.

No quarto time, os filmes onde o cliente (inocente) contrata um advogado, raramente um policial, que acredita em sua história e descobre provas para sua absolvição. São poucos os filmes que me lembro agora. Tem-se Making a Murderer (2ª temporada).

E no quinto grupo, a maioria esmagadora das séries jurídicas, nos quais se acompanha o dia a dia de um escritório de advocacia e os casos da semana, onde os protagonistas encontram soluções milagrosas para processos aparentemente perdidos. Atualmente, destacam-se Suits e How to Get Away with a Murderer, fora outros, como Boston Legal, Ally McBeal e tantos outros.

Bem, vou ser direto quanto a Versões de um crime:

Não é um filme ruim, apenas fraco, sem sal, sem graça, esquecível.

Keanu Reeves é um advogado criminalista incumbido de defender um adolescente de 16 anos de idade denunciado pelo homicídio de seu pai. O filme retrata todo o julgamento apenas, com a oitiva das testemunhas e a estratégia utilizada pelo advogado para (tentar) obter a absolvição de seu cliente, com o veredicto final.

Eu queria poder explicar melhor o porquê do filme ser fraco e ruim, mas não consigo, já que nada nele me marcou. Nada chama atenção ou prende o espectador, pois o próprio caso em si não é construído de forma mais intrigante.

O filho confessa o homicídio do pai e na cena do crime não são encontradas quaisquer outras provas. Existe apenas a palavra dele. Na casa, estavam apenas a vítima, o acusado e sua esposa, mãe do adolescente.

Logo, neste tipo de história, para que o resultado final seja diferente de guilty (culpado), é preciso haver uma reviravolta surpreendente na história, algo que não possa ser contado até os minutos finais, não porque os escritores não quisessem, mas sim porque seria um elemento novo para os próprios personagens.

Infelizmente, a solução encontrada não agrada, é confusa e, ao meu ver, forçada.

Um filme de tribunal sério respeita(ria) todos os personagens, incluindo os policiais, juiz e o promotor. Eles apenas cumprem seu papel no sistema criminal, não sendo (sempre) os vilões. É preciso haver lealdade entre todos. Pode haver uma investigação ruim, um promotor mais duro ou um juiz mais inflexível, mas nada fora do normal. Porém, não pode haver um advogado desonesto que manipule provas ou que esconda fatos dos próprios espectadores como forma de segurar a plateia.

A graça destes filme e séries é justamente o debate, a forma como advogado e promotor analisam e interpretam as provas e a lei,a norma, fazendo com que a audiência consiga acompanhar o caso e o raciocínio, torcendo por um por outro. A resposta deve estar sempre ali e não pode ser algo inventado e apresentado de forma inédita e sem contexto.

Esse é um dos erros de Versões de um crime.

Realmente, as provas acusatórias são fracas, inexistentes, limitando-se à confissão do acusado, portanto, o que este filme pretendia? Desde o começo, ele já esconde a solução final, deixando de lado a participação dos espectadores que se veem obrigados a assistir a té o final para esclarecer essa dúvida. O veredicto final fica a critério de cada espectador, se concordam ou não com ele. Porém, existe algo além.

Faltando cerca de 10min para o fim da fita, o filme não acaba, logo, existe algo a mais. O que será? Um epílogo que igualmente não respeita a inteligência do espectador, sendo um exemplo da preguiça dos roteiristas, a única forma de amarrar todas as pontas soltas.

Falar mais entregaria os spoilers do filme, tamanha é a quase ruindade da fita.

Por fim, as atuações são rasas e que combinam o desenvolvimento do filme. Um filme fraco, com um roteiro fraco e performances fracas. Um pena para Renée Zellweger, irreconhecível no filme e tratada como uma atriz iniciante. Keanu Reeves, como sempre, interpreta ele mesmo, longe da atuação marcante de Kevin Lomax em Advogado do diabo.

Por isso, eis meu veredicto final: não assistam.

Simples assim.

Existem histórias muito melhores e que valem a pena. Histórias que te prendem, que te fazem torcer, que te fazem pensar, como deveria toda obra de ficção jurídica.

Como advogado criminalista e devorador da cultura pop, Versões de um crime quase que me dá vergonha.

Não é à toa que não me lembro quando este filme foi lançado em 2016, o mesmo ano de John Wick, o superfilme de ação de Reeves.
Até a próxima e com o retorno da programação normal.

Link:

https://www.netflix.com/br/title/80058394





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