ESPAÇO DO ALUNO
POR QUE DECIDI ME TORNAR UM PROFESSOR UNIVERSITÁRIO? pt IV
Boa noite, pessoal.
Hoje, dia 19 de maio, é o dia dos estudantes/acadêmicos de Direito.
A data é comemorada em razão de Santo Ivo, considerado o "padroeiro dos advogados" ou "advogado dos pobres", portanto, mostra-se oportuno escrever um texto a respeito da minha escolha pela carreira docente.
Ao mesmo tempo, aproveito para escrever algo sobre uma reportagem que o Fantástico da Rede Globo exibiu neste domingo sobre o impacto do "contingenciamento" de verbas do Ministério da Educação às universidades federais, essa no patamar de 30%, que falei brevemente na postagem anterior.
Ambos os temas estão relacionados umbilicalmente.
Meu texto anterior expôs algumas críticas a respeito da (baixa) qualidade da pesquisa jurídica nacional, essa derivada de múltiplos fatores. Temos a "zona de conforto", o "medo da inovação" e o "excesso de academicismo". Irei retomar alguns temas.
Fazer ciência é caro, pois conhecimento custa dinheiro, cujo retorno não é certo, líquido e nem se pode aferir em curto ou médio prazo. Trata-se de um investimento, quase que a fundo perdido, cujos benefícios não podem ser mensuráveis, se tal gasto resultar em algo concreto, pois, como toda pesquisa, nem sempre a conclusão é certa. Erra-se e acerta-se.
Mas estou me referindo às ciências médicas e biológicas, naturais, cujos recursos materiais são obrigatórios, ao contrário do que ocorre com as ciências humanas, especialmente o Direito, essa sim uma área problemática...
Há muito tempo, o Direito não é tratado como uma Ciências Jurídica e Social aplicada, apesar de ser esse seu nome correto, pois, em pleno século XXI, nós, juristas, ainda discutimos o que é o Direito em si. A Filosofia do Direito não encontrou uma resposta e, creio eu, talvez não a encontre, pois existe muita resistência, para não dizer má-fé, de parte dos "cientistas jurídicos" em assumir uma posição e defendê-la até o fim, sem relativismos e mudanças de opinião conforme o soprar dos ventos.
Logo, se nós, juristas, não tratamos o Direito como uma ciência, como queremos que as demais ciências nos respeitem e nos considerem como uma igual? Não é à toa que, durante muito tempo (e ainda é), o Direito é uma área que sofria muito preconceito e mal vista pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), um dos órgãos de fomento da pós-graduação do Ministério da Educação.
Esse pessoal do Direito não faz ciência como nós, por isso, por que precisam de tanto dinheiro? Uma critica que tem razão de ser, culpa de nós mesmos.
O Brasil é o país com o maior número de advogados e faculdades de Direito no mundo, além disso, o número é superior à soma dos cursos e profissionais do resto do planeta.
Ou seja, o Brasil, na teoria, deveria ter um número proporcional de professores, pesquisadores e estudantes, com trabalhos de ponta e que fossem capazes de proporcionar um ensino melhor, além de fornecer meios de melhorar o dia a dia de todos.
O Direito se relaciona com diversas áreas, mas, com relação ao seu objeto específico, o sistema de justiça, a pesquisa mostra-se débil, precária, inútil. Então, voltamos aos problemas da baixa qualidade da pesquisa.
Nosso cotidiano apresenta diversos problemas que são do interesse do Direito, porém, a pesquisa, ao invés de tentar resolvê-los, limita-se a discussões teóricas e quase sem nenhuma utilidade. Troca-se a aplicação e busca e respostas por discussões puramente teóricas e acadêmicas, em razão da "zona de conforto", "medo da inovação" e, obviamente, do "excesso de academicismo". Romper esse círculo vicioso não é uma tarefa fácil e que, por consequência, afeta a própria qualidade da pesquisa.
Como justificar, por exemplo, para a Capes, mais verba para pesquisa se o produto é inútil, sem valia, sem aplicabilidade?
Como tornar a pesquisa jurídica brasileira, de um modo geral, mais relevante, em uma país em que a própria segurança jurídica, o respeito à lei, aos julgados, é algo que varia com uma velocidade que impede qualquer planejamento ou perspectiva?
TODAS as áreas do Direito possuem sua base teórica e concreta. TODAS, sem exceção, logo, não seria errado exigir que cada projeto de pesquisa, desde o nível de graduação, quando da confecção do "temido" trabalho de conclusão de curso (TCC) tivesse uma base de dados empírica, afastando-se as pesquisa exclusivamente teóricas, bibliográficas.
Ao invés de procurar por escritores que concordem com a gente, poderíamos procurar por escritores que buscassem explicar algo inédito.
Dessa forma, quando o governo decide "contingenciar" quase que 1/3 da verba para a educação nacional, o desespero é natural. Todos os departamento serão afetados, especialmente aqueles que precisam de mais dinheiro, o que não ocorre com o Direito, proporcionalmente.
O Direito é um curso barato em termos de recursos materiais. Basta uma sala, mesa, quadro negro, giz e uma biblioteca razoavelmente decente. Aqui, os professores são mais importantes que os recursos materiais.
Por isso, torno a repetir: a baixa qualidade da pesquisa jurídica é fruto de quem a faz: orientandos e orientadores, além, claramente, as instituições de ensino, eis que responsáveis pelo fomento das pesquisa ali realizadas.
Assim, quando escolhi a carreira docente, essa questão somou-se a tantas outras que passaram a ser objeto de reflexão e autocrítica. O professor universitário possui uma responsabilidade social muito elevada e todos os aspectos devem ser considerados.
Eu já tinha uma noção, mas esse item se tornou mais firme depois que terminei meu mestrado e convivi um tempo com alunos de graduação de uma instituição de ensino menor e longe da capital.
Esse olhar e as lembranças desse convívio sempre me incentivam e reforçam a ideia dessa responsabilidade social.
Até a próxima.
Hoje, dia 19 de maio, é o dia dos estudantes/acadêmicos de Direito.
A data é comemorada em razão de Santo Ivo, considerado o "padroeiro dos advogados" ou "advogado dos pobres", portanto, mostra-se oportuno escrever um texto a respeito da minha escolha pela carreira docente.
Ao mesmo tempo, aproveito para escrever algo sobre uma reportagem que o Fantástico da Rede Globo exibiu neste domingo sobre o impacto do "contingenciamento" de verbas do Ministério da Educação às universidades federais, essa no patamar de 30%, que falei brevemente na postagem anterior.
Ambos os temas estão relacionados umbilicalmente.
Meu texto anterior expôs algumas críticas a respeito da (baixa) qualidade da pesquisa jurídica nacional, essa derivada de múltiplos fatores. Temos a "zona de conforto", o "medo da inovação" e o "excesso de academicismo". Irei retomar alguns temas.
Fazer ciência é caro, pois conhecimento custa dinheiro, cujo retorno não é certo, líquido e nem se pode aferir em curto ou médio prazo. Trata-se de um investimento, quase que a fundo perdido, cujos benefícios não podem ser mensuráveis, se tal gasto resultar em algo concreto, pois, como toda pesquisa, nem sempre a conclusão é certa. Erra-se e acerta-se.
Mas estou me referindo às ciências médicas e biológicas, naturais, cujos recursos materiais são obrigatórios, ao contrário do que ocorre com as ciências humanas, especialmente o Direito, essa sim uma área problemática...
Há muito tempo, o Direito não é tratado como uma Ciências Jurídica e Social aplicada, apesar de ser esse seu nome correto, pois, em pleno século XXI, nós, juristas, ainda discutimos o que é o Direito em si. A Filosofia do Direito não encontrou uma resposta e, creio eu, talvez não a encontre, pois existe muita resistência, para não dizer má-fé, de parte dos "cientistas jurídicos" em assumir uma posição e defendê-la até o fim, sem relativismos e mudanças de opinião conforme o soprar dos ventos.
Logo, se nós, juristas, não tratamos o Direito como uma ciência, como queremos que as demais ciências nos respeitem e nos considerem como uma igual? Não é à toa que, durante muito tempo (e ainda é), o Direito é uma área que sofria muito preconceito e mal vista pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), um dos órgãos de fomento da pós-graduação do Ministério da Educação.
Esse pessoal do Direito não faz ciência como nós, por isso, por que precisam de tanto dinheiro? Uma critica que tem razão de ser, culpa de nós mesmos.
O Brasil é o país com o maior número de advogados e faculdades de Direito no mundo, além disso, o número é superior à soma dos cursos e profissionais do resto do planeta.
Ou seja, o Brasil, na teoria, deveria ter um número proporcional de professores, pesquisadores e estudantes, com trabalhos de ponta e que fossem capazes de proporcionar um ensino melhor, além de fornecer meios de melhorar o dia a dia de todos.
O Direito se relaciona com diversas áreas, mas, com relação ao seu objeto específico, o sistema de justiça, a pesquisa mostra-se débil, precária, inútil. Então, voltamos aos problemas da baixa qualidade da pesquisa.
Nosso cotidiano apresenta diversos problemas que são do interesse do Direito, porém, a pesquisa, ao invés de tentar resolvê-los, limita-se a discussões teóricas e quase sem nenhuma utilidade. Troca-se a aplicação e busca e respostas por discussões puramente teóricas e acadêmicas, em razão da "zona de conforto", "medo da inovação" e, obviamente, do "excesso de academicismo". Romper esse círculo vicioso não é uma tarefa fácil e que, por consequência, afeta a própria qualidade da pesquisa.
Como justificar, por exemplo, para a Capes, mais verba para pesquisa se o produto é inútil, sem valia, sem aplicabilidade?
Como tornar a pesquisa jurídica brasileira, de um modo geral, mais relevante, em uma país em que a própria segurança jurídica, o respeito à lei, aos julgados, é algo que varia com uma velocidade que impede qualquer planejamento ou perspectiva?
TODAS as áreas do Direito possuem sua base teórica e concreta. TODAS, sem exceção, logo, não seria errado exigir que cada projeto de pesquisa, desde o nível de graduação, quando da confecção do "temido" trabalho de conclusão de curso (TCC) tivesse uma base de dados empírica, afastando-se as pesquisa exclusivamente teóricas, bibliográficas.
Ao invés de procurar por escritores que concordem com a gente, poderíamos procurar por escritores que buscassem explicar algo inédito.
Dessa forma, quando o governo decide "contingenciar" quase que 1/3 da verba para a educação nacional, o desespero é natural. Todos os departamento serão afetados, especialmente aqueles que precisam de mais dinheiro, o que não ocorre com o Direito, proporcionalmente.
O Direito é um curso barato em termos de recursos materiais. Basta uma sala, mesa, quadro negro, giz e uma biblioteca razoavelmente decente. Aqui, os professores são mais importantes que os recursos materiais.
Por isso, torno a repetir: a baixa qualidade da pesquisa jurídica é fruto de quem a faz: orientandos e orientadores, além, claramente, as instituições de ensino, eis que responsáveis pelo fomento das pesquisa ali realizadas.
Assim, quando escolhi a carreira docente, essa questão somou-se a tantas outras que passaram a ser objeto de reflexão e autocrítica. O professor universitário possui uma responsabilidade social muito elevada e todos os aspectos devem ser considerados.
Eu já tinha uma noção, mas esse item se tornou mais firme depois que terminei meu mestrado e convivi um tempo com alunos de graduação de uma instituição de ensino menor e longe da capital.
Esse olhar e as lembranças desse convívio sempre me incentivam e reforçam a ideia dessa responsabilidade social.
Até a próxima.
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